Batem os sinos na Sé
E o povo cabe na fé
Dentro do teu coração,
Tu palpitas, como dantes
De chinelas saltitantes
À procura dum pregão!
Lisboa, minha cidade
Foi de ti, toda a saudade
Que levou um marinheiro,
Só por eu te ouvir cantar
Uma quadra popular
Ao teu Santo Padroeiro!
És varina, és Lisboa
Na canção que o povo entoa
Mais alegre, mais bairrista,
És um quadro de ternura
Onde o Tejo te emoldura
Para ver se te conquista!
Conheço-te, sei quem és,
És a musa das marés
Onde sempre me perdi,
É tão forte a devoção
Que eu não sei porque razão
Sinto saudades de ti!
Letra de Paulo Conde
Eu entrei em Alfama, para ouvir
Ali num esconso beco empedrado
O carpir duma guitarra a trinar,
Um convite, uma porta a entreabrir
Lá dentro a tradição do Embuçado
Na taverna dum bairro á beira-mar!
Arqueadas, três vigas de Madeira,
Um leque de velas num castiçal
E o Santo Padroeiro de Lisboa,
Aguarela de fado, altaneira
No esboço que matiza sem igual
A história da canção que o povo entoa!
Vozes amigas e rostos fagueiros
Vão crepitando saudades, na chama
Que a memória reluz no Embuçado,
E à mercê de traços sobranceiros
Sinto-me preso nesta velha Alfama
E perdido na fama do seu fado!
Paulo Conde