Ó sua descaradona
Tire a roupa da janela,
Essa camisa sem dona
Lembra-me a dona sem ela! - Henrique Silva
Ontem estava na varanda
Com um traje muito leve,
Que a favorece, que a abona,
Mas tanto anda e desanda
Que mostra o que não deve
Ó sua descaradona!
Controle o seu á vontade
Não é que eu não queira ver
Uma paisagem tão bela,
Mas não faça essa maldade
Oiça o que lhe vou dizer
Tire a roupa da janela!
Não deixe a janela aberta
Do seu quarto intimista
Quando a roupa abandona,
Seja um pouco mais discreta
Porque salta muito á vista
Essa camisa sem dona!
Neste mundo de ansiedade
Há quem viva de ilusões
Por uma simples farpela,
O olhar gera saudade
E a camisa com bordões
Lembra-me a dona sem ela!
Paulo Conde - SPA 2017
Nesta vida tão funesta
Já nem a morte me resta
P'ra fugir do infinito,
Só quero deixar de ser
Não estar vivo e não morrer
Ser apenas o meu grito!
Não ser corpo, não ser alma
Não ser nem tão pouco a calma
Do nada da ilusão,
Quero apenas ter um fim
Sem recordações de mim
Ser um simples apagão!
Deixem-me que seja louco
Não ter muito nem ter pouco
Nexo de causalidade,
P'ra que a minha consciência
Não acorde na dormência
Da minha eternidade!
Paulo Conde, SPA
2016
Já só me resta saber
Porque um dia me deixaste,
Mas eu já não quero ter
Todo o amor que levaste!
E a minha vida sem ti
Está bem melhor podes crer,
Já não choro o que perdi
E só te quero esquecer!
Mas não me rogues perdão
Que tudo está perdoado,
Até sinto inspiração
Para cantar este fado!
Só para teres a certeza
Que já não tenho saudade,
Vem alegrar-me a tristeza
Podes voltar á vontade!
Paulo Conde - SPA 2017
El rei D. Carlos primeiro
No iate Dona Amélia
Foi ouvir cantar o fado,
Apartou o timoneiro
E a par da condessa Ofélia
Um fadista convidado!
Na guitarra Petrolino
Fez vibrar a nostalgia
Desde a proa ao convés,
Era o trinar cristalino
Em perfeita harmonia
Ao compasso das marés!
Foi ao largo de Sesimbra
Pra deleite dos convivas
Em lauto jantar real,
Que Fortunato Coimbra
Cantou rimas alusivas
A El Rei de Portugal!
O silêncio imperou
E D. Carlos em segredos
Com a formosa condessa
Encantado, aceitou
Sem receios nem enredos
Em lhe cumprir a promessa!
Era alta a madrugada
Quando o barco atracou
E as gaivotas amararam,
O caís acolheu a escada
O fado desembarcou
E as orgias terminaram!
Autor: Paulo Conde
SPA - 2017
Eu sei tudo o que fizeste
Quando te intrometeste
Entre a minha vida a dois,
Foste, falsa, vil, cruel
Só porque o querias a ele
Para o largares depois!
Não te posso perdoar
Nem quero ver o teu olhar
Mulher inconstante e vã,
No sangue e no coração
Não há mais fria traição
Que a traição da nossa irmã!
Por bem, segue o teu caminho
Não invejes o meu ninho
Deixa em paz o meu amor,
Porque ele de ti nada quer
Ele já tem uma mulher
Que o ama com fervor!
Paulo Conde
SPA 2017
Julguei que me perdera nos teus braços
Perdida neste amor que me conduz
Das marcas indeléveis dos teus passos
Aos traços bem vincados duma cruz!
Nos teus braços eu nunca me perdi
Pois neles nem sequer me encontrei,
Somente em loucos sonhos os senti
Nos abraços que nunca te darei!
E neste amor que trilha o meu caminho
Ando triste, perdida na má sorte,
Ao sentir de fugida o teu carinho
Num sonho que teima em fugir à morte!
É tão grande a tortura p’ra te ver
Que este meu coração já nem se importa,
De tanta vez que pára de bater
Sempre que o vento faz ranger a porta!
Afinal o destino dos teus passos
Passa noutra morada, noutra rua,
Em sonhos vou morrendo nos teus braços
Na vida vou sonhando que sou tua!
Paulo Conde, SPA 2002
Estou na feira de vaidades
Onde a morte tem morada
E a vida cá não mora,
Vim só pra matar saudades
Da saudade enterrada
Num cemitério outrora!
Jamais quero fazer parte
Dum assombro de tristeza
Por onde a vaidade impera,
Nem ser cumplice da arte
Dos mausoléus, da riqueza
Que a multidão venera!
Quando der os meus finados
Ser cremado é quanto baste
Para me expandir no ar,
Não quero restos sepultados
P'ra que ninguém se desgaste
Quando de mim se lembrar!
Não é por sina ou por sorte
Que um jazigo é apanágio
De uma alma protegida,
Cemitérios são p'rá morte,
E p'ra não dar mau presságio
Eu só entro lá com vida!
Paulo Conde - SPA
Menina dos olhos tristes
É tão triste o teu olhar,
Que eu não sei como resistes
Na tristeza, sem chorar!
Sem que em mim reparasses
No teu olhar me perdi,
E pedi que não me olhasses
P’ra poder olhar p’ra ti!
Perdi-me nessa tristeza
Que o teu olhar irradia,
Como era triste a beleza
Que me deste nesse dia!
Não mais vi o teu olhar
Só nos meus sonhos existes,
Menina do meu luar,
Menina dos olhos tristes!
Paulo Conde, SPA
Chamava-lhe maravilha
Foi um dia a minha ilha
Onde ancorei a paixão,
Amor eterno, ausente
Que mora no meu presente
Dentro do meu coração!
O seu amor não me é estranho
Inda o sinto quando venho
À prainha das quimeras,
A maresia traz saudades
Dessas radiosas tardes
No alvor das primaveras!
Fecho os olhos sinto o vento
E nesse breve momento
Seu rosto, mil ideais,
Que eram sonhos de magia
De um amor que nos unia
E não finda nunca mais!
Paulo Conde, 2012
IGAC
SPA
O amor não escolhe idades
Aparências ou belezas,
Tem nas suas qualidades
Outro tipo de certezas!
Quero as ondas.
Quero de volta a maresia
que me aconchega a alma.
Que me limpa,
que me purifica,
espiritualiza e ilumina!
Ser somente eu.
Beijar o mar
e afagar a cambraia a meus pés!
O mar é a minha verdade.
Eu sou verdade no mar!
Paulo Conde - Dez/2008
Já não posso ser contente
Trago a esperança perdida,
Ando perdido entre a gente
Não morro, nem tenho vida!
Camões
Chamaram-me um dia Mundo
P’ra que eu unisse em paz
Tanto fervoroso crente,
Resta o suspiro profundo
Do que outrora fui capaz
Já não posso ser contente!
Não me acolhe o coração
Nem sequer me afaga a esp’rança
Da gente que dou guarida,
Sou Mundo na solidão
Neste tempo sem bonança
Trago a esp’rança perdida!
Vou girando hora a hora
Neste turbilhão de vozes
Feitas dum amor ausente,
Eu sou Mundo, mas agora
Qu’ outras almas são ferozes
Ando perdido entre a gente!
E perdido, vou girando
Não tenho um rumo traçado,
Sou Mundo de fé perdida,
Dia a dia vou penando
Neste orbe, mutilado
Não morro, nem tenho vida!
Paulo Conde - SPA
Mostra ser muito bondosa
E age com grande afã,
É uma espécie de raposa
A bruxa de Palhavã!
De comidas e bebidas
Faz a sua profissão,
E à noite, às escondidas
Vai rezar à maldição!
E põe tudo em sobressalto
Com magias de satã,
Vive ali no Porto Alto
Dorme aLI NA Palhavã!
Fez magia por paixão
Desdenhou, quis roubar,
Por tão louca ambição
Ao desprezo foi parar!
Não me quebram por enguiços
Nem visões do amanhã,
Mas não esqueço os feitiços
Da bruxa de Palhavã!
Paulo Conde
IGA E SPA
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'Há mulheres neste mundo
Que não merecem de um homem,
Nem o desprezo profundo
Quanto mais o pão que comem' - Carlos Conde
Quero ter a liberdade
De viver em segurança,
Não se vence a tempestade
Com miragens de bonança!
Se falar é um bem comum
Que não pode ser calado,
O respeito é também um
Bem a não ser ignorado!
Não bastou canções, milicias
Nem cravos nas multidões,
Foi-se o bastão dos polícias
Veio a luva dos ladrões!
Tenho esperança e até fé,
Que o povo conheça um dia,
Mesmo a sério como é
Viver em democracia!
Autor: Paulo Conde
IGAC e SPA
Quase sempre o fado evoca
Aquilo que mais gostamos,
E é tão bom entrar na Toca
Só p'ra ouvir o Carlos Ramos!
A sua voz é expressão
Que enternece a todos nós,
Dá-nos voz ao coração
Pôe-nos coração na voz!
Carlos Ramos é na verdade
Riso, lágrimas, encanto,
É escutar uma saudade
Que por fim nos toca tanto!
Autor: Paulo Conde
IGAC E SPA
P'ra voltar a ser feliz
Traz de volta o teu sorriso,
Também quero o teu olhar
Para que os possa juntar
E formar um paraiso!
Traz também a tua pele
O teu calor, o teu desejo,
E p´ra não elouquecer
Não te esqueças de trazer
A doçura do teu beijo!
As caricias mais ousadas
Podes trazê-las, meu bem,
Não quero que falte nada
Nem sequer a porta fechada
P'ra não entrar mais ninguém!
Paulo Conde
IGAC E SPA
Na vida é tudo aparente
Na morte tudo acabou,
Quem morre nem sequer sente
As saudades que deixou.
Carlos Conde
Vivemos com a vaidade
De pensar que somos gente,
Nada somos de verdade
Na vida é tudo aparente!
Outra vida é promessa
Em que o além nos deixou,
Na vida tudo começa
Na morte tudo acabou!
A saudade que nos fica
De quem vai à nossa frente,
É algo que mortifica,
Quem morre nem sequer sente!
Se tudo tem que findar
Numa vida que acabou,
Quem morre deve levar
As saudades que deixou!
Paulo Conde
IGAC E SPA
O fado não quer vedetas
Nem asnos empoleirados,
Nas criações mais dilectas
De fadistas consagrados!
O fado não quer saber
De aprumadas aldrabices,
Nem tão pouco conviver
Com um rol de vigarices!
Marceneiro é muito mais
Que versículos e menores,
Mas não tolera, jamais
Que lhe troquem os autores!
Um dia a história do fado
Vai repor e com justiça,
O Goya que foi roubado
Por gentalha metediça!
Paulo Conde
IGAC E SPA
»Polémica no Fado
Prémio Goya 2008 atribuido a Carlos do Carmo foi uma farsa. A autoria da música é de Alfredo Duarte Marceneiro. Siga a polémica neste link: http://lisboanoguiness.blogs.sapo.pt/tag/fado+vers%C3%ADculo+-+a+pol%C3%A9mica+continua
Nasci à margem da vida
Nas veredas do pecado
Onde o tempo é mais cinzento,
Sou filho de mãe perdida
Num destino mal fadado
Cresci ao sabor do vento!
Aprendi com a tempestade
Tive a noite como escola
Vivi sem eira nem beira,
Nunca vi a mocidade
Vendi-me de esmola em esmola
Em farrapos de algibeira!
Por caminhos, desvairado
Sem alma, sem coração
Comunguei com a tristeza,
Nunca amei nem fui amado
E encontrei na solidão
A minha maior riqueza!
Foi o tempo quem trilhou
O destino do meu berço
Por um caminho sem fé,
É por isso que hoje sou
Um homem que não conheço
Nunca vi, nem sei quem é!
'Só sabemos quem nos ama
E quem nos quer sem favor,
Quando caímos na lama,
No sofrimento e na dor!'
Do autor
Não me olhes em segredo
Que o segredo, tem um fim,
Não me olhes, tenho medo
Que me segredes assim!
Saio à porta bem cedinho
Só para te ver passar,
Passas tu devagarinho
P’ra me dares o teu olhar!
Bem sei que nada dizemos
Sei bem que nada falamos,
Tudo aquilo que nós queremos
Está no olhar que trocamos!
É segredo, mas eu estou
Convencido que é assim,
Teu olhar já me contou
Que só tens olhos p’ra mim!
Paulo Conde
Quero a lágrima furtiva
Que me levou de vencida
Quando a saudade raiou,
Saudade que mantém viva
A lembrança duma vida
Que o destino apagou!
Sou feliz, já não pertenço
Às agruras, ao tormento
Duma lágrima singela,
Esqueci-me que nela penso
E foi puro esquecimento
Quando hoje me lembrei dela!
E lembrei-me que a saudade
É de todos nós diferente
Não ri, não fala, não chora,
Três sentidos de ansiedade
Que o passado tem presente
Dia a dia, hora a hora!
Essa lágrima furtiva
Não se prendeu à saudade
Quando dela me lembrei,
A saudade é mais esquiva
E traiu a mocidade
Qu’inda ontem recordei!
Paulo Conde
Paulo Conde, natural de Lisboa, inicia colaboração escrita, através de artigos de opinião, com prestigiados órgãos de comunicação social.
Em 1997 é fundador e redactor da publicação periódica regional "A Voz do Guia".
Em 1998 integra a colectânea de poesia popular do concelho de Benavente "Poetas nossos", com alguns poemas da sua já vasta obra.
Em 1999 inicia trabalho de investigação ao espólio do poeta Carlos Conde e a toda a componente do fado (investigação que mantém actualmente) e colabora na elaboração do livro "Memórias de um tempo de rádio", a publicar brevemente.
Em 2000 recebe menção honrosa da Câmara Municipal de Alenquer, por ocasião dos I Jogos Florais deste município.
Em 2001 edita a obra biográfica "Fado, vida e obra do poeta Carlos Conde", coordenando toda a sua divulgação, realizando diversas iniciativas no âmbito do primeiro centenário do nascimento do poeta.
A descoberta da grande qualidade da poesia de Carlos Conde levou um bisneto a fazer uma viagem no tempo e a procurar estabelecer o seu percurso fadista em livro.
Paulo Conde, bisneto do poeta, apercebeu-se que aquele espólio poético não devia ficar apenas na esfera familiar e lançou-se numa investigação sobre uma das figuras tutelares do meio fadista de 1920 a 1970, com vista à concretização de um livro que traçasse o perfil do autor de inúmeros êxitos, como "Não passes com ela à minha rua".
A poesia de Carlos Conde continua a ser cantada mas nem sempre identificada e essa foi outra das preocupações do autor do livro.
"Passei hoje em Alcobaça", "Drama de uma velhinha", "Saudades da nossa casa", "A mulher que já foi tua", "Feira da ladra", "Zé Canas" ou "Recordar é viver" são alguns dos populares êxitos do poeta.
A investigação realizada por Paulo Conde permitiu-lhe, por outro lado, verificar que a despeito do fado ser a canção nacional há uma grande lacuna bibliográfica.
A biografia que escrevi preenche um pequeno ponto, mas permitirá talvez incentivar a realização de outros trabalhos, diz. Paulo Conde, natural de Lisboa, inicia colaboração escrita, através de artigos de opinião, com prestigiados órgãos de comunicação social. Em 1997 é fundador e redactor da publicação periódica regional "A Voz do Guia". Em 1998 integra a colectânea de poesia popular do concelho de Benavente "Poetas nossos", com alguns poemas da sua já vasta obra. Em 1999 inicia trabalho de investigação ao espólio do poeta Carlos Conde e a toda a componente do fado (investigação que mantém actualmente) e colabora na elaboração do livro "Memórias de um tempo de rádio", a publicar brevemente.
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